fbpx

Surf Em Trestles, Califórnia: Análise Do Pico

Surf Em Trestles, Califórnia: Análise Do Pico

Nossa série Análise do Pico chega hoje à Trestles, Califórnia. A onda de Lower Trestles é de fato uma das mais desejadas do mundo, sonho de muitos surfistas ao redor do globo. Entenda melhor os motivos pelos quais ela é assim considerada e surpreenda-se com outras joias que irá descobrir ao longo do texto.

Skatepark

A onda de Lower Trestles é considerada um skatepark. Apesar de não existirem ondas idênticas, as que quebram na bancada de Lowers em dias clássicos parecem realmente cópias umas das outras. Muita gente se refere a este pico como um skatepark, pois suas ondas são extremamente manobráveis e longas, parecendo pistas para que o surfista performe da melhor forma possível.

Alguns analistas de surf inclusive dizem que ela é uma onda muito democrática, mas ao mesmo tempo cruel, pois separa os homens dos meninos. Isso porque ela acentua o que os surfistas têm de melhor, mas ao mesmo tempo escancara suas fraquezas. Sem dúvida, elas ficam muito evidentes neste pico. Raramente você verá um campeonato profissional em Lowers sendo vencido por um surfista que não esteja entre os top 10 do mundo. É o tipo de onda que não dá muito espaço para zebras, como acontece frequentemente em beach breaks irregulares, onde o fatores sorte e escolha de ondas têm um peso muito grande.

No vídeo abaixo é possível entender em imagens do que estamos falando, ainda que em um dia de ondas médias.

San Clemente

trestles surf
T-Street, San Clemente

Trestles na verdade fica dentro do Parque Estadual de San Onofre, território limítrofe entre dois condados, San Diego County e Orange Couty. Na prática, essas ondas estão localizadas na cidade de San Clemente, pois o acesso é por ela e os locais são todos desta cidade. Importantíssimo mencionar que são seis picos diferentes, e não apenas Lowers. Esta sequência de ondas é algo que certamente deixa o lugar ainda mais especial. São elas, do norte para o sul: Cottons, Barb-Wires, Uppers, Lowers, Middles e Church.

Dentre estes seis picos, o melhor de todos é sem dúvida Lowers, todavia vale destacar também as excelentes direitas que rolam em Uppers e as longas esquerdas de Cottons.

Perspectiva aérea dos picos da região. Church não aparece, mas fica ao lado de Middles.

A cidade de San Clemente é muito agradável. Pequena e com ótima estrutura, é um oásis espremido entre o Oceano Pacífico e a movimentada rodovia 405, que corta a Califórnia de Norte a Sul. Diferentemente das metrópoles Los Angeles e San Diego, San Clemente mantém uma vibe de cidade do interior. O centro conta com ótimos cafés e restaurantes, além de lojas para todos os gostos. A grande maioria das pessoas que não surfam acabam passando batido por ali, mas para os surfistas a parada é obrigatória e ela normalmente se revela uma grata surpresa.

Celeiro De Talentos

San Clemente tem uma cultura de surf muito forte e enraizada. São décadas produzindo surfistas de alto calibre e berço de diversas marcas de ponta da indústria de pranchas de surf. Os maiores exemplos são os shapers Tim Patterson, que faz as pranchas do campeão mundial Ítalo Ferreira, e Matt Biolos da marca Lost, uma das mais reconhecidas e valorizadas do mundo hoje em dia.

A qualidade das ondas inegavelmente é um dos grandes motivos para isso. Os surfistas têm a oportunidade de surfar ondas com excelente formação desde muito cedo. O fato de ser uma cidade pequena também ajuda e muito a criar esta cultura forte em torno do esporte, pois os surfistas acabam se concentrando muito no mesmo local, convivendo bastante e criando uma atmosfera de muita camaradagem, mas também de muita competitividade.

Com uma história profunda e perpetuada em gerações, dos Fletchers, fundadores da lendária Astrodeck, aos Andinos, Longs e Gudauskas, San Clemente não para de gerar excelentes surfistas geração após geração. Caras lendários como Matt Archbold e Chris Ward fizeram história em sessões de vídeo clássicas como em What’s Really Goin’ Wrong por exemplo.

Mais recentemente podemos mencionar os irmãos super talentosos Griffin e Crosby Colapinto, que vêm destruindo nos eventos da WSL, além de Filipe Toledo, que escolheu San Clemente como seu lar há cinco anos e hoje é muito respeitado pela comunidade local. Embora as principais revistas de surf não estejam mais na cidade, San Clemente ainda é um dos principais centros de surf do mundo.

Fator Crowd

trestles surf
Trânsito pesado em Lowers

Tudo na vida tem os prós e os contras, não é mesmo? Nas ondas de Trestles não poderia ser diferente . Se tem duas coisas que são certas nessa vida são a morte e o crowd em Lowers. Se você é daqueles que não suporta surfar em meio a uma grande quantidade de pessoas, evite Lower Trestles. Mas caso você seja um pouco mais tolerante, com o tempo irá perceber que na verdade precisa apenas encontrar seu ritmo, relaxar e enfrentar a situação.

Há muitas ondas quebrando e você não precisa necessariamente ficar esperando as séries junto com 20 locais que são surfistas profissionais. É possível pegar ótimas ondas tanto para a esquerda quanto para a direita, mas muito cuidado pois pode haver surfistas no caminho. Por outro lado, caso você prefira surfar com menos gente envolta, mesmo que em ondas de menor qualidade, corra para Cottons ou Uppers. Não espere que irá surfar sozinho, com certeza haverá outros caras sedentos por ondas nestes picos. No entanto, o crowd é bem menor e mais importante, menos faminto.

Uppers tem algumas esquerdas e muitas direitas. As direitas são melhores, mais longas e extremamente divertidas e amigáveis, ideais para surfistas intermediários e avançados. Cottons é ainda mais amigável, esquerdas longas e mais cheias, ideais para os iniciantes, intermediários ou para os que gostam de ondas mais lentas. Além destas, explore os outros picos, pegue um longboard e experimente uma caída em Church ou Middles.

Lowers

Para se chegar à praia os visitantes podem estacionar e caminhar por uma trilha de asfalto até Upper Trestles, a partir da trilha na Cristianitos Road, perto de onde Cristianitos atravessa a San Diego Freeway. Há um estacionamento pago perto do restaurante Carl’s Jr. na Coast Highway, além de alguns estacionamentos públicos nas ruas próximas ao restaurante. Não há taxas para acessar o parque, tanto a pé quanto de skate ou bicicleta. A maioria dos visitantes entra em Trestles por essa trilha, uma agradável caminhada de quinze minutos do estacionamento até a praia.

As ondas de Lowers, tanto a direita quanto a esquerda, permitem que o surfistas se encaixem no pocket. Elas quebram em velocidades distintas nas diferentes seções. A direita é mais longa, nem muito íngreme e nem muito cheia. Ela é simplesmente perfeita para um surf progressivo, oferece seções para aéreos, batidas, rasgadas, cut-backs e até mesmo alguns tubinhos na maré seca. A esquerda é mais curta e íngreme. Do começo ao fim em pé, sem partes mais lentas como na direita. As esquerdas permitem aéreos enormes e manobras muito agressivas onde os surfistas podem explodir o lip sem parcimônia.

trestles surf
Miguel Pupo agredindo sem dó uma esquerdinha de Lowers

Condições

A condições ideais para que Lowers quebre clássica acontecem mais comumente no verão californiano, entre os meses de Abril e Outubro.  O fundo de Lowers é de pedras redondas, isso faz com que as ondas quebram sempre no mesmo lugar, variando levemente de acordo com a direção do swell. Este mesmo fundo de pedras faz com que a saída e a entrada na maré seca sejam um pouco penosas, pois são escorregadias e instáveis.

A direção de swell ideal para Lowers é sul/sudoeste com período médio ou longo, entre 12 e 16 segundos e tamanho entre 4 e 8 pés. As ondulações de sul e de sudoeste também são bem aceitas, mas a janela perfeita é de 180 a 220 graus. Normalmente o mar é liso e espelhado de manhã bem cedo e algumas vezes no final de tarde, mas quando o vento entra ele pode estragar um pouco a formação das ondas, principalmente se for de sul. O melhor vento sem dúvida o terral, que vem de nordeste e leste.

A variação da maré também é bastante relevante na qualidade das ondas. Neste pico a melhor é a janela de meia maré, tanto enchendo quanto secando. Os extremos não são os melhores, muito seca e a onda fica curta demais e muito alta e as ondas ficam cheias demais.

Lembre-se de que a água do mar na Califórnia é bem fria, para não dizer gelada. Neste ponto do sul do estado, normalmente ela exige um long john de 2 ou 3 milímetros na maior parte do ano. Nos meses de verão, entre junho e agosto, é possível surfar com roupas de borrachas de mangas curtas ou até mesmo inteiro short, dependendo do nível de tolerância ao frio de cada pessoa.

Pranchas

A gama de pranchas ideais para serem usadas em Tresltes é enorme. Inclusive, suas ondas são pistas de testes para inúmeros shapers locais e seus atletas. Não é raro ver surfistas com seus videomakers rodeados de pranchas de modelos diferentes sendo testadas por ali.

Tanto as pranchas de alta performance quanto as pranchas híbridas irão funcionar muito bem em Lowers. Tudo depende do tipo de surf que o surfista gosta de desempenhar. A prancha do dia a dia de high performance é a correta para ser usada em 90% das vezes nessa onda se a intenção é um surf mais progressivo. Se você é daqueles que querem mais curtir a onda e fazer um surf mais relaxado, não hesite em usar sua fish ou pranchinha híbrida.

Um modelo perfeito para alta performance nestas ondas é a Driver 2.0 da Lost. Prancha desenvolvida, testada e aprimorada em Lowers, tem as características ideais para as ondas dali, que tem seções em pé, seções flat e um inside rápido com junções ideais para voos e manobras radicais. Com um rocker de entrada sutil, a Driver 2.0 gera bastante velocidade logo após o drop. Seu rocker leve e contínuo no meio da prancha facilita na conexão das seções e mantém a velocidade durante as curvas longas, tanto na base quanto no topo das ondas. Finalizando, o rocker de saída desta prancha é mais acentuado.Este atributo deixa a prancha ainda mais manobrável e responsiva, entregando um responsividade incrível, principalmente nas partes críticas das ondas.

Se sua ideia é uma prancha híbrida, mais reta e veloz, entretanto menos manobrável, nossa recomendação é a Channel Islands Fishbeard Este modelo tem sido muito usado por Patrick Gudauskas nas paredes perfeitas de Lowers. Com muita velocidade e fluidez, ela tem excelente remada e permite bom posicionamento na hora de disputar as ondas.

Sonho Dourado

Se o seu sonho dourado de ir para a Califórnia ficou ainda mais aceso depois de ler este artigo, convide seus amigos para lerem também e comece a planejar sua viagem para o estado mais surf dos Estados Unidos.


Assista abaixo a uma bateria eletrizante durante o CT de 2015, entre os brasileiros Filipe Toledo, Ítalo Ferreira e Miguel Pupo.

 

 

 

 

4 thoughts on “Surf Em Trestles, Califórnia: Análise Do Pico

    • Luís Coruja says:

      Obrigado pelo feedback, Flávio. Realmente falar sobre a temperatura da água é algo relevante a ser dito. Vou fazer um adendo ao texto abordando isso. Gratidão novamente pelas palavras e comentário construtivo. Grande abraço e boas ondas!

  1. Bani Zoe says:

    Amei a matéria! Ja já compartilharei aqui no grupo do surf (daqui do Recreio dos Bandeirantes RJ, )…rs) com certeza será sine qua non, Brown

    • Luís Coruja says:

      Olá, Brown. Muito obrigado pelas palavras e por compartilhar com seu grupo de amigos. Nossa intenção é poder atingir o maior número de pessoas com nossos artigos para que todos possam conhecer cada vez mais sobre pranchas e picos de surf. Gratidão e boas ondas!

Deixe uma resposta para Luís CorujaCancelar resposta

Descubra mais sobre Pranchas de Surf | Prancha Nova

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading