Ondas Grandes Não São Para Qualquer Um⠀
Surfar ondas grandes não é para qualquer um. Entre os meses de Outubro e Março, inverno no hemisfério norte, vemos notícias, imagens e vídeos sobre ondas enormes sendo surfadas em todo o mundo.
Lugares como Half Moon Bay (Mavericks), Peahi (Jaws), Waimea Bay e Nazaré estão no radar dos surfistas de ondas grandes há muito tempo. Ano após ano, grandes atletas, chamados de big riders, desenvolvem novos métodos de treinamento e empresas criam novos equipamentos de segurança para eles. Afinal, ao término do dia, o que mais importa é levar todo mundo em segurança de volta para terra firme.
Medição Das Ondas
Medir as ondas é sempre uma coisa bastante subjetiva. Os havaianos podem dizer que uma onda mede vinte pés (aproximadamente sete metros) de altura quando os californianos dizem que a mesma onda tem trinta pés de altura.
Obviamente, o surf em ondas grandes é assustador. Há cinquenta pés de água branca e muito oceano se movendo em direção ao surfista. Os surfistas de ondas grandes sabem que o oceano está no comando. Inegavelmente, se ficarem sob uma série de ondas gigantes podem ficar desorientados, apagarem ou até mesmo perderem a vida. O risco é iminente.
Surf Na Remada
Existem basicamente duas modalidades no surf de ondas grandes. A primeira e mais tradicional é o surf na remada. Certamente o modo mais desafiador e que exige mais experiência, preparo e habilidade do surfista. As pranchas utilizadas nessa modalidade são enormes, pois o atleta precisa de muita velocidade e poder de remada para conseguir entrar nas ondas e completar a descida. Os tamanhos dessas pranchas variam de acordo com o tamanho das ondas, entretanto, podemos dizer que giram a partir de 9’0” até 11’6”.
Em consequência disso, a questão do posicionamento no outside é de suma importância. Os surfistas precisam ficar posicionados em local exato para poderem pegar as ondas. Alguns metros mais para baixo e podem tomar uma série de ondas poderosas na cabeça. Poucos metros mais para fora e não serão capazes de entrar nas ondas.
Tow-In
A segunda modalidade, muito difundida a partir dos anos 90 é o tow-in, ou surf rebocado. Neste caso um jet ski e um corda de reboque são utilizados para puxar o surfista na onda. Quanto maior a onda, mais rápido elas se movem, tornando-se fisicamente impossível remar na mesma velocidade em alguns casos.
Quando o jet ski corresponde à velocidade da onda, o surfista solta a corda e continua descendo a ladeira com sua pranchinha geralmente presa aos seus pés por alças. Inclusive, neste caso de surf rebocado as pranchas são mais curtas e pesadas, em média cerca de 6’0” de comprimento.
Todavia, estas pranchas são muito mais pesadas que uma pranchinha do dia a dia com as mesmas medidas. Elas pesam cerca de dez a doze quilos. Para isso, nelas são colocados pequenos pesos de chumbo, com o intuito de deixá-las pesadas o suficiente para mantê-las na água. Isso é muito importante por conta da alta velocidade atingida quando se está “dropando” uma montanha d’água de mais de 15 metros de altura. Complementarmente a isso, também são fabricadas com um composto de plástico para que a prancha se flexione mais durante o surf, fazendo com que o surfista não sinta tanto cada solavanco da onda.
Os Caldos
Certamente não se pode lutar contra a força da natureza. São toneladas de água se movendo e arrastando surfista e prancha para onde o oceano bem entender. Os caldos em ondas pequenas e médias já são uma parte desagradável do surf, agora imagine você ter que passar um minuto submerso, sendo detonado pela força das ondas, sem saber em que momento verá a luz do dia e poderá respirar novamente.
Novos Equipamentos De Segurança
Por consequência das muitas mortes ocorridas nesse tipo de situação é que os treinamentos e os equipamentos se aprimoraram muito. Hoje em dia a maioria dos atletas usam dispositivos de flutuação e outros equipamentos de segurança que minimizam consideravelmente o tempo debaixo d’água.
De todo modo, independentemente disso, os surfistas de ondas grandes não devem se confiar apenas nos coletes infláveis, portanto, treinamentos de apneia e trabalhos de preparação mental são essenciais. Alguns dos principais nomes do surf de ondas gigantes no mundo são capazes de ficar em apneia estática por mais de cinco minutos.
Irresponsabilidade
Inegavelmente o advento dos coletes de flutuação foi um grande marco para os surfistas extremos. Desde então nenhuma morte foi registrada em situações de caldos em ondas gigantes. No entanto, muitos surfistas despreparados se consideram aptos e, de forma irresponsável, se colocam em situações de risco extremo só por estarem utilizando este tipo de colete. Em virtude disso, muitos picos como Jaws por exemplo, ficam extremamente “crowdeados” e ainda mais perigosos.
Camaradagem
O surf, apesar do grande crescimento e popularização nas últimas décadas, ainda é uma comunidade pequena, ao propósito que o surf em ondas grandes é ainda menor. Embora haja certa competição e rivalidade inatas do ser humano, mais do que isso há muita camaradagem entre os praticantes.
Primordialmente, eles cuidam uns dos outros. Se alguém estiver em apuros, eles sabem que seus companheiros são os únicos que podem salvá-los, muitas vezes a milhas e milhas distantes da costa ou do hospital mais próximo.
Preparação
Por todas essas razões acima, o surf em ondas grandes não é recomendado para iniciantes. Apenas um punhado de caras no mundo está realmente preparado para fazer parte desse cenário, e se você, surfista iniciante, sentir que pode surfar grandes ondas no futuro, melhor se preparar desde agora.
Faça yoga, apneia, exercícios cardio respiratórios, meditação e tente surfar o máximo que puder, mas nunca arrisque sua vida se colocando em situações em que você não está preparado para estar.
Se você realmente pretende começar sua preparação para encarar condições extremas, deverá treinar muito sua respiração, porque normalmente respiramos apenas com a parte superior do peito e usamos cerca de um quinto da nossa capacidade pulmonar. Depois disso, procure sempre surfistas mais experientes para que possam lhe passar o caminho das pedras e seguir o curso natural de aprendizado e evolução. Não pule etapas, isso pode custar caro demais.