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Entrevista Com O Shaper Alexandre Snapy

Entrevista Com O Shaper Alexandre Snapy

Dando continuidade às nossas LIVES no Instagram, no dia 30 de Abril conversamos com o shaper e empresário Alexandre Snapy, da Snapy Surfboards. 

Alexandre é hoje certamente um dos shapers mais renomados do Brasil. Prova disso são as diversas vitórias em etapas do circuito mundial com atletas como Tomas Hermes e Willian Cardoso, por exemplo. Mais recentemente, as pranchas Snapy levaram o catarinense Lucas Vicente ao cobiçado Título Mundial Junior da WSL. 

Confira a transcrição dos melhores momentos dessa conversa muito enriquecedora e descontraída. Se preferir, assista ao vídeo em nosso IGTV.

PRANCHA NOVA: Fala, Alexandre. Tudo certo?

ALEXANDRE SNAPY: E aí, Coruja. Tudo bem irmão?

PN: Tudo certo. Seja bem-vindo e desde já obrigado pela disponibilidade.

AS: Obrigado a vocês. Deixa eu me apresentar então. Boa noite galera, sou Alexandre Snapy. É um prazer enorme estar aqui com a pranchanova.com, um site de excelência onde a gente vem fazendo um trabalho alucinante com as pranchas da Snapy e Pyzel. 

snapy

PN: Maravilha, Xande. Obrigado pelas palavras e mais uma vez obrigado por estar aqui conosco hoje. Quero agradecer também aos nossos espectadores e seguidores que estão aqui conosco mais uma vez. 

Preciso dar um recado breve antes de começarmos. Primeiro de tudo, gostaria de avisar aos nossos clientes que estamos atendendo normalmente tanto via chat, quanto telefone e redes sociais. Segundo recado bem importante galera, fiquem até o final que vamos oferecer uma surpresa para todos com relação às pranchas do Alexandre Snapy.

PN: Vamos lá. Alexandre, para dar uma contextualizada para o pessoal, conta pra gente como foi que começou sua história com o surf, seu contato com o esporte. De onde você é, como iniciou seu trabalho com as pranchas?

AS: Cara, o surf começou quando era criança ainda. Minha irmã surfava de bodyboard. Nós morávamos em Floripa e naturalmente vendo a galera surfar e estando em contato com a praia me despertou o interesse aos 12 anos. Pedi uma prancha para o meu pai, mas com o preconceito todo que existia, não rolou. 

Logo depois acabei achando uma prancha no lixo. Um vizinho nosso, na verdade a mãe dele, deu uma geral na garagem e acabou jogando a prancha fora, era uma Brasil Natural. Ela estava toda quebrada, mas eu acabei levando ela para casa. Esse foi meu primeiro contato com o surf, eu morava na frente de uma marmoraria e ali eles tinham resina e outros materiais, então tive que pedir para eles me ajudarem a arrumar a prancha, enchi os buracos de resina e ali foi o primeiro contato mesmo. 

A galera acha que sou de Balneário, mas sou de Floripa. Vim morar em BC em 1994, morei no Paraná também, em Caiobá, Matinhos na verdade. Foi de 1997 a 2000, quando pude conhecer muita gente do surf por lá. Trabalhei com o Dondi em Matinhos, fazendo consertos e continuei fazendo isso quando voltei para Balneário Camboriú. 

No entanto foi só em 2002 mesmo que eu montei um negócio de consertos de pranchas e a levar o negócio mais a sério, profissionalmente e por necessidade. Dali eu nunca mais parei, até chegar até onde cheguei agora. 

PN: Que história maneira, parabéns. A galera acha que Snapy é seu sobrenome, mas não é. Por que esse nome Snapy? 

AS: Na verdade meu nome é Carlos Alexandre Bartelt e eu sempre, desde novo, quando pensava em uma marca, eu queria Snapy. O nome Snapy vem de Snapper Rocks, aquela praia da Austrália, mas eu pensava que era Snapy, não Snapper. Aí quando fui criar e registrar a minha marca que descobri que era Snapper. Nessa hora percebi que já havia outras marcas semelhantes registradas, com dois PP já existia, com P mudo já existia, então ficou Snapy mesmo.

É incrível porque é uma palavra que se fala Snapy em todo lugar do mundo, é muito fácil, em qualquer língua se pronuncia igual e não foi nada programado para isso.

A logo é outra coisa que foi louca, criei sozinho. É como se fossem dois símbolos da Volcom encaixados um no outro, um diamante de cabeça pra baixo e outro pra cima e no fim criou um S. Quando tudo isso bateu eu percebi que era isso mesmo, era coisa de Deus.

PN: Show de bola. Eu vou pra BC desde que nasci e uma das minhas primeiras pranchas foi uma Calibre. Passei muitos anos indo para lá e depois de um tempo meio ausente comecei a notar que surgiu um tal de Snapy na cidade. Comecei a ver muitas pranchas suas na praia e várias pessoas falando. Você é um shaper relativamente novo, com menos de 15 anos de shape. Como isso começou?

AS: Cara, eu comecei a shapear em 2007, faz exatos 13 anos. A marca nasceu em 2006 como uma companhia de laminação, eu não shapeava. Eu tinha uma sala de laminação, uma de lixa e outra de shape. Essa sala de shape era para convidados e quem fez as primeiras pranchas aqui foi o Sérgio Emílio, de Itajaí. Entretanto, como ficou muito perto, acabou gerando alguns conflitos nas encomendas e aí quem começou a shapear aqui foi o Guima, o Cristiano Guimarães lá de Floripa. Ele foi o primeiro shaper da Snapy. O cara até hoje está fazendo altas pranchas em Floripa, muito bom. 

Assim começou a Snapy em 2006. Eu laminava, lixava, colocava os copinhos e começar a shapear foi uma coisa natural, percebi que eu tinha capacidade de fazer aquilo também.

Lembro que as pranchas custavam algo como 580 reais e o shaper me cobrava 120. Foi aí que comecei a oferecer meu shape para os clientes, com desconto de 120 reais, shapeava de graça para poder pegar experiência e dali não parei mais.

PN: Que bela história. Vejo hoje seu sucesso, com vitórias muito relevantes como a do Willian Cardoso no CT em Bali 2018. Um shaper com pouco tempo se compararmos com outros do mercado, a que você atribui todo esse sucesso e reconhecimento em pouco mais de uma década? 

AS: Bom cara, é muito louco para quem olha de fora. Tenho muito respeito pelos outros shapers, amigos como Rodrigo Silva, Sérgio Emílio, entre outros, que estão nessa desde o começo da década de noventa, e realmente olhando para o nosso sucesso foi uma coisa rápida mesmo. 

Mas cara, foi muito trabalho, muito trabalho mesmo. Eu me dedico muitas horas por dia pela Snapy, eu vivo a Snapy. Minha família sabe o peso disso, carregar a Snapy o tempo todo. Também tive muita sorte de ter caras muito bons ao meu lado como clientes de conserto. Eles amavam meu conserto, só eu metia a mão nas pranchas deles. Como já tínhamos essa relação, abriu portas para quando comecei a shapear. Todos os atletas de BC eram meus clientes de conserto. Acabamos nos envolvendo ainda mais, caras como Willian Cardoso, Marcos Pastro, Tomas Hermes, James Santos, Mickey Bernardoni e outros.

Realmente caí no meio de um ninho de ninjas, os caras eram muito bons e exigentes. Isso me puxou demais, eles surfavam com pranchas excelentes como Xanadu, JS, Ricardo Martins, Al Merrick, Chilli, etc. Não tinha o que fazer, ou eu me puxava e fazia pranchas de alta performance ou os caras são me dariam oportunidade. Não teve jeito, tive que estudar muito, muito e muito. 

Foi isso aí, fechei parcerias com atletas profissionais, o Marcos Pastro foi meu primeiro atleta. O Tomas Hermes me abriu ainda mais as portas, vários resultados muito expressivos. Ganhamos dois títulos brasileiros, catarinenses, etapas do QS, mundial amador junior da ISA e agora o mundial junior da WSL. Agora vamos em busca do título mundial da WSL, até os 50 anos esse é o meu objetivo, se Deus quiser!

PN: Maneiro cara. Aproveitando o assunto, você sentiu um impacto muito grande na sua marca nacionalmente falando depois da vitória do Willian em Uluwatu?

AS: Certamente, cara. A nível nacional a marca cresceu muito. Fortalecemos as parcerias com os lojistas e aumentou muito o número de pranchas fabricadas por mês. Demos um salto grande de 60 para mais de 150 por mês. No entanto, o mundo da competição é bem restrito, nesse meio sentimos um enorme respeito e reconhecimento, mas para o cara que não é tão ligado nas competições não mudou nada não.

PN: Você falou da sua equipe e dos seus atletas. Balneário tem muitos surfistas talentosos, você está no lugar certo né?

AS: Balneário é um celeiro né cara, você sabe. Todo mundo é muito talentoso, desde os surfistas, os caras de criação de vídeo, das nights, os juízes da WSL como o Luli Pereira por exemplo. A galera se puxa demais, todos são muito bons no que fazem, viajam muito, são bastante instruídos e exigentes. Isso me fez evoluir demais e me manter em constante movimento. 

PN: Quem são os atletas profissionais da sua equipe?

AS: Diego Santos no Havaí, Wesley Leite em São Paulo, Lucas Vicente de Floripa, Willian Cardoso, Matheus Navarro, Bárbara Muller, James Santos, Mickey Bernardoni, Alan Fendrich e o grom Antônio Vitorino. São todos meus ídolos, o fato de eles aceitarem trabalhar comigo me faz correr ainda mais atrás. 

PN: Equipe de peso! Quando você está desenvolvendo algum modelo, ajustando detalhes, qual a importância dos feedbacks dos atletas? Qual deles é o que te exige mais?

AS: Cara, sem dúvida o Willian. Para quem não sabe, trabalho com ele há 10 anos, desde a época da Rusty. Hoje temos uma relação de confiança, mais relaxada, mas de fato me fez puxar muito, exigiu sempre o meu máximo. Agora outro que está me puxando legal é o Lucas Vicente também, me exige o máximo. O Matheus é tranquilo, se adapta facilmente às pranchas, inclusive ele tem um modelo dele, a Reality

O feedback vem de todos e isso é o mais importante, sendo positivo ou negativo, tenho que levar muito à risca. E não falo só de design, falo de material, lixa, qualidade de acabamento. Sem atletas profissionais acho muito difícil um shaper evoluir. 

PN: Fale um pouco da relação entre a funcionalidade, a performance e a resistência das pranchas.

AS: Eu digo que prancha de cliente, aquele surfista amador, feita em PU tem uma vida útil de no máximo um ano, para usufruir o melhor dela. A resina de poliéster nunca pára de secar, o bloco também tem seu processo. No caso de EPS é um pouco diferente, tem uma vida mais longa, não saberia dizer exatamente quanto. As primeiras pranchas que laminei da Snapy eram Kit Keahana, de EPS com resina epóxi. Houve estudos que mostraram que estas pranchas poderiam manter até 4 anos de performance. 

Para você ter uma comparação, o Teteu (Matheus Navarro) é capaz de detonar uma prancha de PU em 1 ou 2 meses, já uma prancha EPS chega a durar um ano. Claro que ele usa menos a EPS, mas ainda assim é uma diferença grande.

PN: Interessante, não sabia dessa diferença tão grande assim. Pessoal, gostaria de avisar a todos que quiserem mandar perguntas aí fiquem à vontade galera.

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AS: É isso aí, estamos num bate-papo entre nós dois aqui mas isso é para vocês todos. Estamos aqui para passar conhecimento, acho que o mercado de pranchas tem muito a crescer em educação e ensinamento ao cliente. Queremos que os clientes tenham mais conhecimento sobre os produtos. A falta de informação leva as pessoas a cometerem muitos erros, sem querer compram pranchas erradas pensando que estão fazendo um baita negócio.   

Na cabeça dele aquilo estava certo, muitas vezes o cliente não entende a diferença de valores, é um universo muito amplo, a prancha mágica não aparece a todo momento. Quem puder mandar para os amigos, esse é um momento e uma oportunidade única, vale a pena demais, queremos expor para o maior número de pessoas esses esclarecimentos. 

PN: Belas palavras, Xande. Obrigado, essa é a ideia mesmo. Alexandre, você é um cara que já viajou bastante para ter contato com shapers de renome lá fora. Quem são os caras com quem você pôde conviver, com quem mais aprendeu, o que trouxe de novo em termos de conceito e design aqui no Brasil?

AS: Cara, desde 2012 tenho ido para o exterior em busca disso. Tem uma palavra que eu acredito muito que é “compartilhar”. Na primeira vez, em 2012, fui parar dentro da fábrica do Márcio Zouvi da Sharp Eye. Era um cara que eu já admirava demais, mestre dos mestres. Tive sorte de cair lá e aprender um monte, depois voltei em 2014 e percebi que realmente os caras estavam lá na frente. 

Depois fui para a Austrália com os caras da Stacey, da Warner e da Hammo, com quem fechamos parcerias e fomos licenciados para produzir as pranchas deles aqui no Brasil. Isso foi bem na época que a galera estava procurando as pranchas de fora por aqui. Foi uma troca de informação e design incrível, compartilhamos muito conhecimento.

Mais recentemente fui procurado pelo Jon Pyzel para fabricar as Pyzel aqui no Brasil cara. Eles vieram atrás de mim e hoje com certeza é o shaper que mais me inspira, sem dúvida. Ele tem algo muito diferente de todos os shapers, é um cara que me faz pensar todo dia nas minhas pranchas, nos meus designs. Definitivamente me faz evoluir demais, aprendi a fazer pranchas grandes, tenho designs de modelos grandes na linha da Snapy hoje que eu garanto que funcionam por causa dos aprendizados com ele. Isso é muito importante, sempre vi com bons olhos. 

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PN: E você colocou algumas ideias e conceitos desses shapers nos teus modelos?

AS: Eu sempre fui muito ético. De fato me inspiro muito a desenvolver uma prancha tão boa quanto, mas não uso as mesmas medidas ou copio ideias. Jamais vou fabricar uma prancha modelo Ghost da Pyzel com a marca da Snapy por exemplo. Até hoje não consegui fazer o meu modelo, com a minha cara, estilo a Ghost, que tenha me brilhado os olhos. Tenho modelos que funcionam similarmente, para mar bom e forte, tais como a V6 e a Black Cheese. 

PN: Excelente! Vamos a uma pergunta dos nossos espectadores. O Fernando pergunta: “qual a importância da estética das pranchas na construção da sua marca?”

AS: Pergunta incrível. Acho que daqui para frente isso é fundamental. O layout da prancha é fundamental, é pura evolução. Ter um layout lindo, criado por um designer, junto com a funcionalidade dos elementos. Os caras da Hayden e da Slater Designs são mestres nisso, tanto em estética quanto em funcionalidade. Nós aqui nos cobramos muito disso, mas ainda não temos estrutura para investir mais ainda nisso.

Temos que sempre nos botar na posição do cliente. As pranchas são um produto, essas pessoas consomem seu produto e temos que entregar o melhor, estarmos prontos para servi-lo. Queremos que o cliente use nossas pranchas com orgulho, tanto esteticamente quanto funcionalmente. 

PN: Vinícius pergunta: “qual modelo da Snapy você sugere para surfar beach breaks tubulares e por quê?”

AS: Acaba sendo uma prancha específica, quando buscamos o tubo. Tenho o modelo The Code que acho muito animal. Ela foi desenvolvida para isso, mas não foi pensada apenas nos tubos. Ela tem uma curva maior de bico e rocker de saída médio, além de um single to double concave com saída em vee bottom. Isso para que ela seja firme no trilho dentro do tubo, mas com condições de manobrar quando a onda não roda ou depois do tubo. É uma prancha mais rígida para não derrapar, mas igualmente manobrável, bem segura e versátil. 

PN: Pergunta do Maurício: “por que você acha que o brasileiro prefere encomendar uma prancha customizada ao invés com compra uma em pronta-entrega ou modelos com medidas padrão?”

AS: Como eu disse anteriormente, acho que é por causa da falta de conhecimento e confiança sobre as pranchas. É algo cultural mesmo. O cara ainda quer se sentir confiante conversando com o shaper. Lá fora tem fábricas que cobram mais caro para sair das medidas padrão do site por exemplo, além de demorarem mais para entregar. 

Acho que temos muito a aprender nisso, para o mercado a customização não é algo sustentável no futuro. Personalizar tudo, medidas, pintura, realmente está meio fora da realidade. Acabamos perdendo muito tempo com isso, gera maiores custos tanto para nós quanto para o cliente, gera um desgaste grande em todo o ciclo de produção. 

Além disso, muitas vezes pode ser prejudicial para o cliente. Não é raro um surfista me pedir por uma prancha de um modelo específico, por exemplo a Reality, em tamanho 6’0″ com 35 litros. Nesse momento é preciso explicar que para eu fazer isso teria que modificar toda a linha e as medidas do shape, desconfigurando completamente o modelo. Aí que mostro que existem outros modelos capazes de atender ao que ele pede, já com as medidas equilibradas e com a funcionalidade garantida nas ondas.

Passar este conhecimento para o cliente é um compromisso que tenho e acredito que de todos os shapers deveriam ter também, de educar o cliente e fazê-lo confiar mais. Vocês do Prancha Nova estão na frente, são inegavelmente um exemplo disso, é nítido. 

PN: Alexandre, é uma pena que estamos chegando no fim. Mais uma vez muito obrigado pela tua presença conosco aqui hoje, foi incrível. 

AS: É isso aí. Muito obrigado a vocês, foi uma ótima experiência poder passar meu conhecimento adiante. A gente não só vende prancha, a gente vende alegria, saúde, lazer, sonho. Um grande abraço a todos!

PN: Valeu, Xande. Até a próxima.

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