Surf Em Chicama: Análise Do Pico
Chegou a vez de falarmos de surf na onda mais longa do mundo em nossa série Análise Do Pico, a mítica Chicama. Mesmo que você nunca tenha ido ao Peru, é provável que já tenha visto fotos épicas das quilométricas ondas deste local.
A História
Da mesma forma que G-Land, na Indonésia, Chicama foi “descoberta” do alto. O ano era 1966 quando o havaiano Chuck Shipman, retornando para sua casa, ficou surpreso com a grande quantidade de ondas que ele pôde ver da janela do avião. Elas quebravam em várias praias ao longo da costa peruana, mas uma onda especialmente chamou sua atenção, exatamente por parecer extremamente longa e perfeita.
Chegando ao Havaí, Chuck escreveu cartas e as enviou para seus amigos peruanos, contando sobre o que havia visto e já planejando seu retorno em breve para a América do Sul. Sem dúvida, aquela cena realmente havia mexido muito com ele.
O problema é que o havaiano não sabia com exatidão onde ficava aquela baía. Ele calculou que estavam há menos de uma hora de voo ao norte de Lima. Lembrava também que havia uma cidade relativamente grande próxima à onda, a qual ele não soube reconhecer.
Quando Chuck voltou ao Peru, juntaram-se a ele alguns outros amigos locais e então decidiram partir para o norte. O grupo calculara que a tal onda deveria ficar entre as cidades de Chimbote e Chiclayo, mas não tinham certeza de nada. Depois de algumas horas de estrada, o grupo teve que parar para dormir acampado nas areias da praia do Bermejo. No outro dia eles continuaram rumo ao norte, entraram em algumas estradas em direção à costa mas acabaram não encontrando nada do que esperavam. Ainda assim, o grupo não desistiu, estavam focados em encontrar aquelas mágicas linhas.
A Descoberta
Quando finalmente chegaram em Trujillo, imaginaram que essa era provavelmente a cidade “grande” que Chuck havia visto do avião. Ali quebra a onda de Huanchaco, um bom pico de ondas para a esquerda. No entanto, aquela praia já era conhecida há muitos anos e certamente não era a onda dos sonhos que estavam procurado.
Eles não se deram por satisfeitos e seguiram estrada, perguntando para os moradores locais em cada cidade por onde passavam qual era a praia onde as ondas quebram sem parar, ou algo assim. Quando chegaram à pequena cidade de Paiján, uma luz se acendeu. Alguns habitantes do local informaram que havia uma praia com características similares às que estavam procurando, chamava-se Puerto Malabrigo.
Foi aí que o grupo se desviou da estrada principal e tocaram em direção oeste por uma estrada de terra por cerca de meia hora. Os dois carros em que estavam atravessaram o pequeno vilarejo sem parar e seguiram em direção à praia, entrando na areia. À medida que avançavam, ninguém mais falava. De repente só se ouviam gritos, a euforia tomou conta de todos. Uma série interminável de ondas de até dois metros quebrava em perfeita harmonia baía adentro. A formação era perfeita, algo que eles nunca tinham visto antes. Ondas penteadas por um forte vento terral, formando um véu extenso por toda a praia.
O final já devemos saber qual foi. De fato não demorou muito para que todos pegassem suas pranchas e se jogassem na água para desfrutarem daquelas ondas de sonho. Logo, perceberam que as ondas não só pareciam boas, mas eram extremamente longas, proporcionando todo tipo de manobras, inclusive tubos nas últimas seções.
A Onda De Chicama
A onda de Chicama é muito reconhecida pela sua extensão, isso é fato (se você já está cogitando ir para lá, de uma olhada nos pacotes da Off Viagens). O que muita gente pode não saber é que ela possui diversas seções diferentes, cada uma delas com um nome diferente.
A primeira se chama El Cape, é a seção bem cavada. Muita gente pensa que Chicama só funciona em dias de grandes swells, mas em El Cape é possível surfar quase todo dia. O pico é bem exposto e constante, no entanto é mais exposto ao vento. Ao contrário das outras seções, quebra com mais qualidade no verão, com ondulações de noroeste.
A partir de El Point, a segunda seção, é que realmente começa a famosa onda que pode abrir por mais de um quilômetro. Ela se localiza de frente para as pedras, mas o fundo em si é de areia compacta. Na maré seca é possível pegar bons tubos por ali, já na maré cheia oferece paredes muito divertidas e manobráveis.
Em seguida vem a seção de Las Dos Tetas, que se caracteriza por placas tubulares caindo umas atrás das outras. Muitas vezes parece que ela vai fechar, mas logo diminui a velocidade, fica mais cheia e permite muitas rasgadas. Na sequencia a seção de El Hotel, localizada em frente ao Chicama Surf Resort. Esta parte da onda exige muita velocidade e manobras mais para frente. Evite puxar muito para dentro nas manobras aqui, você pode não conseguir mais alcançar a parede da onda.
As duas últimas seções (se você conseguiu chegar até aqui) são muitas vezes tidas como as melhores da onda. Suas pernas inegavelmente estarão bastante cansadas, mas se prepare, pois as seções de El Hombre e El Malecón presenteiam os surfistas com tubos cilíndricos e muito longos, especialmente nos dias de grandes swells de sudoeste.

Condições
Quando falamos em condições, sempre focamos naquele dia clássico, com tamanho sólido. Para isso acontecer em Chicama são necessários swell de sudoeste (entre 195 e 210 graus) com período longo em torno de 15 segundos e vento sudeste. A maré muda a característica das seções, mas a onda em si funciona bem em qualquer maré.
Normalmente Chicama possui uma correnteza muito forte, portanto lembre-se de guardar em torno de 30 dólares por dia para poder pagar o barquinho que leva os surfistas de volta para o pico. Dessa forma você pode poupar energia para o que mais importa, surfar, ao invés de desperdiçá-la remando de volta para o fundo contra a corrente.
Para uma onda com seções tão diferentes, sendo muitas delas bastante rápidas, é necessário que o surfista tenha uma prancha veloz e também bastante maleável. No caso de Chicama, o ideal é ter uma prancha de alta performance para os dias mais clássicos e uma prancha alternativa para dias menores. A prancha de alta performance será capaz de se encaixar nas sessões manobráveis e cavadas com perfeição, como uma máquina de manobras. Esta mesma prancha deverá ter bom desempenho nos tubos das seções mais do inside. Portanto, devemos pensar em modelos versáteis e equilibrados como são a A2 da Chilli, a Pocket Rocket da Lost e a Fever da Al Merrick.
Entre os modelos alternativos, com mais volume e que andam bem em qualquer marola, passando as sessões flat das ondas em alta velocidade, as mais indicadas para Chicama são a FishBeard da Al Merrick, a DHD Mini Twin II e a Pyzel Astro Pop. Todas elas proporcionam muita diversão em dias pequenos, pois devido à pouca curva de rocker mantêm a velocidade mesmo nas partes mais fracas das ondas, passando a seções com facilidade.
No vídeo abaixo é possível entender porque esta onda é tão especial e democrática.
Pacasmayo
Nos dias em que Chicama está com ondas pequenas existe uma opção muito boa próxima dali, se chama El Faro, em Pacasmayo. Essa onda fica em uma simpática cidade costeira, a qual é sede de uma fábrica de cimento e também de um pequeno porto de pesca. O pico é formado por rochas arredondadas e exige bom preparo físico por conta das longas remadas.
De fato esta onda é muito mais exposta que Chicama, sendo assim, é uma das mais constantes da região. Quase sempre tem uma onda quebrando na frente do farol que dá nome à onda. Na maré seca é possível visualizar onde ficam as pedras mais expostas. Assim como Chicama, espere por forte correnteza neste pico também.
As ondas de El Faro são muito fortes e longas. Na verdade, quanto maior o swell, mais longa fica esta onda. Ela aguenta ondulações enormes e segura boa formação até 12 pés (4 metros) por exemplo. Quando isso acontece, as ondas chegam muito próximas ao pier no centro da cidade, que está distante mais de dois quilômetros do início da onda.
As mesmas pranchas de alta performance que funcionam em dias clássicos em Chicama irão funcionar bem em dias pequenos e médios em El Faro, até os 5 pés. Quando as ondas passam de 1,5m neste pico, pranchas com mais volume, que aguentem condições sólidas serão necessárias. A potência e pressão das ondas pedem maior volume e estabilidade das pranchas, mas sem perder a performance e a responsividade. Portanto, é sempre bom ter uma terceira prancha na capa com estas características. Experimente a JS Forget Me Not 2, a Firewire Next Step ou procure nossos consultores para que eles possam recomendar algum modelo ainda mais adequado para suas necessidades e boa viagem!
Assista abaixo ao Top da WSL Miguel Pupo destruindo uma onda de mais de dois minutos em Chicama. Note que esta é apenas uma parte da onda.
Gostei muito das dicas principalmente porque tenho a pretensão de conhecer as ondas do Peru !!!
Valeu por essa leitura edificante pra minha vida
Tmj sempreeeeeeeeeeeeeee
Obrigado pelo comentário, Denilson. Ficamos muito contentes em saber que estamos conseguindo tocar nossos seguidores e clientes de alguma maneira. Tenho certeza de que quando for possível você poderá viver na pele tudo que leu neste artigo sobre Chicama. Grande abraço!
Gostei muito das informações sobre Chicama , estáva me planejando em agosto para chicama pelo visto essa trip vai demorar um.pouquimo mais kkk,
Obrigado pelo comentário, Robson. Que bom que curtiu as informações, mostra que estamos no caminho certo. Tenho certeza de que quando for possível você poderá viver na pele tudo que leu neste artigo sobre Chicama. Espero que sua viagem se concretize logo. Abraço