Análise Do Pico: Ilha Do Mel/PR
Hoje chegamos ao terceiro episódio da série Análise Do Pico, desta vez iremos falar sobre a paradisíaca Ilha do Mel, também no litoral do Paraná.
Patrimônio Cultural
A Ilha do Mel está localizada na entrada da Baía de Paranaguá, em frente ao balneário de Pontal do Sul, no litoral norte paranaense. Patrimônio cultural tombado de 1975, a Ilha é constituída por duas áreas bem definidas, unidas por um istmo de mais ou menos 100 metros de largura no seu ponto mais estreito. A área menor, ao sul, conta a com presença de seis baixos morros, sendo o mais alto o morro Bento Alves (do Miguel), com aproximadamente 155 metros de altura. É nesta área que se encontram as praias abertas para o oceano, e consequentemente, as ondas. A área norte, mais extensa, é dominada por uma planície de restinga, com mangues, riachos e lagoas, e é contornada por praias voltadas para o mar interior da Baía de Paranaguá.
Reserva Ecológica
A Ilha pertence oficialmente ao município de Paranaguá, o maior do litoral do estado, no entanto sua administração e manejo são feitos pelo IAP (Instituto Ambiental do Paraná). Foi no ano de 1992, durante a ECO92, que a Ilha do Mel foi elevada à condição de Reserva da Biosfera, buscando preservar sua fauna e flora ainda extremamente preservadas.
Visando a preservação deste patrimônio da humanidade, algumas restrições foram impostas, tais como o número máximo de visitantes (5 mil) e a proibição de veículos motorizados e com tração animal, sendo assim, as bicicletas são abundantes entre os moradores e turistas.
Destino Turístico
Este pedaço de paraíso em pleno atlântico sul é muito procurado por turistas de todo o Brasil e também de outros países. Certamente é uma das partes mais preservadas de um litoral brasileiro extremamente explorado e modificado. De fato, estar em contato direto e constante com a natureza é algo que muitos procuram no dias de hoje, para fugir do caos das grandes cidades. Inegavelmente a Ilha do Mel é o lugar certo para quem busca paz e tranquilidade.
Suas trilhas e praias de areias brancas e finas são um convite para longas caminhadas e banhos de mar. Estas mesmas trilhas dão acesso aos principais pontos turísticos da ilha. A Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres, O Farol das Conchas e a Gruta das Encantadas são os principais atrativos para os visitantes.
Além disso, a Ilha conta com excelentes pousadas rústicas e campings muito bem mantidos, oferecendo opções de hospedagem variadas para todo tipo de público. Para chegar à Ilha há duas formas, sendo a mais rápida via Pontal do Sul, de onde saem barcas e lanchas que custam entre R$ 20,00 e R$ 30,00 por pessoa por viagem. Sem dúvida as lanchas são mais rápidas, fazem a travessia em mais ou menos 10 minutos. Já as barcas demoram entre 30 e 35 minutos, dependendo das condições do mar e do tempo. A outra forma de chegar na Ilha é via Paranaguá, de onde saem duas barcas por dia e levam até 2 horas pra realizar a travessia.
Vídeo: Flow Movies / Sílvio Lopes
Constância De Ondas

Sem dúvida o pico mais constante do litoral paranaense, talvez um dos mais constantes do sul do Brasil. Por estar mais exposta em alto mar que as praias do continente, a Ilha raramente fica completamente flat. Quase sempre tem uma brincadeira para os mais fissurados na Praia de Fora e na Praia Grande.
Da mesma forma acontece quando o swell entra com força. As ondas na Ilha do Mel geralmente são maiores do que nas praias de Matinhos por exemplo, principalmente se a ondulação for predominantemente do quadrante sul. Em contrapartida, nos dias em que a ondulação está realmente grande, muitas praias ficam insurfáveis, restando poucas opções para o surf na por ali.
Colaboração De Quem Conhece

Conversamos com um dos melhores surfistas locais da área, especialista nas ondas da Ilha do Mel, o surfista profissional e oceanógrafo formado pela UFPR, Gustavo Valentim. Galinho, como é conhecido, contou para nós quais são as condições ideais para que os principais picos da Ilha quebrem clássicos.
Praia de Fora das Encantadas

A parte sul da Ilha do Mel, que engloba as comunidades de Nova Brasília e Encantadas, é onde estão as principais praias e pontos turísticos, como dissemos anteriormente. De fato, os surfistas se concentram primordialmente na região da Brasília, entre o Canto da Vó e as Paralelas. Entretanto, a Praia de Fora das Encantadas oferece ondas constantes e bastante fortes.
A formação das ondas neste pico é bem tubular, com fundo de areia dura bem compacta. De tempos em tempos as características mudam por conta de dragagens feitas na saída da baía de Paranaguá, mas quando as condições são as ideais, ondas triangulares e com muita força fazem a cabeça dos poucos surfistas locais. Destaque para o profissional Amani Valentim e para os amadores Samuel Santos e Igor Valentim. Nestes dias o fotógrafo local Thafarel Serafim está sempre a postos para registrar os melhores momentos.
Por ser uma praia bem exposta, aceita swell de várias direções, do sul ao nordeste, todavia o sudeste é o que encaixa melhor. Com vento oeste e maré cheia é possível pegar altas ondas por ali, até mesmo em frente à famosa Gruta das Encantadas.
Canto da Vó
Victor Valentim – Foto: Fer Carollo
O canto direito da Praia Grande é conhecido como Canto da Vó, ou Vó Maria. Este nome se deve à Maria de Paula Gonçalves, carinhosamente chamada por seus conhecidos de Vó Maria, por ela ter sido pioneira neste local. A Vó foi a matriarca da Praia Grande, local onde hoje vivem seus descendentes, a Comunidade da Praia Grande (comunidade Vó Maria) é a única comunidade familiar existente na Ilha do Mel.
O Canto da Vó já é conhecido pelos surfistas como pico surf e local de camping há várias décadas. O surf é marca registrada na comunidade local, prática comum por grande parte dos moradores e também de visitantes, principalmente de Curitiba e Paranaguá. As ondas no Canto da Vó são de fato as mais tubulares da Ilha. Em dias de ondas pequenas, boas paredes fortes e manobráveis quebram por uma faixa de mais ou menos 300 metros. Mas é nos dias clássicos que o bicho pega por ali.
Quando o swell encaixa com pressão, direitas vindas de trás da laje de pedra rodando tubos pesados podem ser surfadas pelos mais experientes. Além da onda da laje, rodam tubos por toda extensão da praia, tanto para a esquerda quanto para a direita.
As condições perfeitas para o Canto da Vó são ondulação de sudeste com período médio para alto, que chegue bem limpo na Ilha, com pouco balanço. Além disso, os ventos sudoeste e oeste são os esperados. A maré seca enchendo é a melhor para os tubos, no entanto, muitas vezes a meia maré secando oferece excelentes canudos também, apesar dos bolsões de corrente de saída d´água que se formam pelo pico.
Praia Grande

O canto esquerdo da Praia Grande é o pico mais constante do Paraná. Mesmo em dias completamente flats no continente é possível pegar uma marolinha divertida. Foi isso que aconteceu nos últimos dois anos quando o circuito brasileiro profissional da Abrasp passou por ali. Ondas muito pequenas, mas com excelente formação, deram condições para os melhores do Brasil mostrarem suas habilidades.
No canto esquerdo, para as condições ficarem perfeitas, o swell deve ser de sudeste com período médio e alto. Os ventos nas direções noroeste e oeste e a melhor maré é média para cheia. É quando as ondas ficam mais abertas e longas, proporcionando um surf mais performance, já na seca formam-se bons tubos, entretanto as paredes poder ficar curtas. O mesmo acontece com ondulações muito de leste, quando os triângulos quebram bonitos, mas com pouca parede.
Praia de Fora de Brasília

Outro pico extremamente constante, que na maré cheia quase sempre oferece alguma condição divertida. Longas direitas podem quebrar nos dias clássicos, correndo por mais de 100 metros desde o canto das pedras até o meio da praia. Esquerdas e direitas fortes e com bastante pressão rolam no meio da praia e mais para o canto esquerdo. Por ser uma praia curta, é possível caçar onde está a melhor vala em poucos minutos de remada.
Na Praia de Fora as condições para um surf clássico são com ondulação de sul ou sudeste, combinada com ventos de sudoeste ou oeste. A melhor maré é a média para cheia, o mar se transforma muito nesse pico com a enchida da maré. A ondulação não pode ser muito grande, pois quando há muita energia e tamanho no swell as condições ficam storm, ondas gordas e desorganizadas quebram por toda a praia.
Paralelas

A lendária Paralelas é realmente para poucos. Há muitos surfistas que frequentam a Ilha do Mel há décadas e poucas vezes conseguiram pegar esse pico com altas ondas. O visual é idílico, as ondas quebram paralelas ao morro do farol, por isso o nome. Extremamente sensível, pode se transformar em poucas horas, de acordo com a direção do swell e a maré.
Inegavelmente é um sonho poder pegar essas ondas quando estão funcionando. Para isso, condições específicas devem se alinhar. Conforme nosso especialista Gustavo Valentim nos contou, é necessária ondulação de leste com no mínimo 5 pés com período de mais de 10 segundos. Outro fator essencial é a maré, que deve estar enchendo, de preferência com força de lua cheia e nova. O fundo da praia é formado por areia, porém na bancada onde começam a quebrar as ondas o fundo é de pedras. Aliás, as ondas seguem quebrando muito próximas às pedras o tempo todo, portanto não perca sua prancha e esteja muito atento aos outros surfistas. Por fim, o melhor vento é o sudoeste, mas as Paralelas aceitam bem o vento sul, pois suas ondas ficam protegidas pelo morro e o vento acaba sendo lateral no drop e terral no restante da onda mais para baixo.
Surfistas Locais
O dia a dia dos locais da Ilha do Mel envolve muito surf. Em meios às atividades profissionais e compromissos, sempre que podem os nativos estão na água aproveitando o que o estado do Paraná tem de melhor. Nomes de relevância nacional e até internacional podem ser vistos direto por lá, e também no documentário Segredos da Ilha do Mel, do Canal Off.
Os surfistas de maior destaque sem dúvida são Victor e Amani Valentim. Ambos profissionais renomados que disputam o circuito brasileiro profissional e já foram campeões estaduais. Amani inclusive já disputou o mundial júnior da ASP (atual WSL) junto com Adriano de Souza. Victor é da geração do Gabriel Medina e nas categorias de base travou duelos disputadíssimos com o bicampeão mundial, vencendo vários deles. Além destes dois podemos nomear a local de Pontal do Sul, Natalie Martins, frequentadora assídua e atual moradora da Ilha. Natalie foi campeã sul-americana de surf profissional da WSL em 2016.
Outros grandes talentos vêm surgindo, tais como Kainan Meira, melhor brasileiro no último mundial amador realizado na Califórnia em 2019 e Lucas Cainan, excelente surfista mirim que vem disputando títulos em diversos estados do Brasil nas competições amadoras. Além destes, há dezenas de outros locais que destroem as ondas e estão sempre nas melhores quando o swell encosta, principalmente nas Paralelas. Portanto, como em qualquer outro pico, lembre-se de respeitar a comunidade local, seus costumes e tradições, e quando entrar no mar esteja atento a tudo que se passa ao seu redor. Mantenha-se discreto, respeite sua vez e dessa forma poderá se divertir bastante e será muito bem recebido por todos. Para finalizar, quando sair do mar procure pelo fotógrafo e excelente surfista local Ravel Ribeiro para garantir seu registro nas ondas da paradisíaca Honey Island.
Pranchas Certas
Os diferentes picos da Ilha exigem diferentes modelos de pranchas quando estão quebrando clássicos. Dessa forma, selecionamos um modelo para cada pico, com exceção da Praia de Fora das Encantadas e do Canto da Vó, onde recomendamos a mesma prancha.
- Canto da Vó e Praia de Fora das Encantadas: JS Industries – Monsta 8 Round
- Praia Grande Canto Esquerdo: Pyzel – Radius
- Paralelas: Al Merrick – Rocket Wide
- Praia de Fora de Brasília: Chilli – Volume II