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Ítalo Ferreira: A História De Um Campeão

Ítalo Ferreira: A História De Um Campeão

Seguindo com nossa série sobre os surfistas brasileiros campeões mundiais, chegou a vez do potiguar Ítalo Ferreira. Conheça um pouco da história deste guerreiro que vem encantando o mundo com seu surf explosivo e alegre.

Nos últimos anos o surf vem sendo um dos esportes mais populares do Brasil. Desde a invasão da nova geração, começada em 2011 e liderada por Gabriel Medina, a chamada Brazilian Storm não para de produzir campeões. Medina foi o primeiro a levar o título mundial, em 2014. No ano seguinte a taça mudou de mãos e terminou com o “capitão” Adriano de Souza. Em 2018, depois de duas temporadas vencidas pelo havaiano John John Florence, Medina alcançou seu almejado bicampeonato.

Entretanto, foi no ano de 2019 que tivemos um dos títulos mais emblemáticos e por que não dizer, inesperados. O potiguar Ítalo Ferreira, que havia entrado no CT em 2015, foi o grande campeão mundial de surf da WSL depois de uma final épica nos tubos de Pipeline e Backdoor contra Gabriel Medina.

Podemos dizer que foi inesperada porque, apesar das excelentes performances durante o ano, Ítalo chegou à perna europeia bem atrás de Gabriel no ranking. Seriam dois campeonatos no velho continente, um na França e outro em Portugal. Com um vice campeonato na França e uma vitória em Portugal, somadas a resultados não muito bons de Medina nos dois eventos, Ítalo de repente se viu líder do ranking e vestindo a tão desejada camiseta amarela rumo à etapa decisiva no Havaí.

O Início

italo ferreira crianca

Mas antes de falarmos sobre seu título em 2019 devemos falar sobre como tudo começou. Sem dúvidas nosso personagem tem uma grande história de vida, assim como acontece com boa parte dos atletas profissionais brasileiros, não só surfistas. De origem humilde e sem equipamentos minimamente básicos, Ítalo começou de baixo. O fato de ele não ter uma prancha de surf para iniciar no esporte nunca foi um impeditivo para que ele começasse a deslizar sobre as ondas.

Filho de um vendedor de pescados local da paradisíaca Baía Formosa/RN, Ferreira teve a audácia de usar uma das principais ferramentas de trabalho do seu pai, a tampa de uma caixa de isopor a qual ele usava para transportar os peixes. Conhecido no vilarejo como Luizinho, ele saia bem cedo para a praia da Pipa e levava a caixa de isopor lotada de peixes. Ao seu lado seu companheiro fiel: Ítalo.

Segundo o próprio Sr. Luizinho: “Saíamos todos os dias em direção à Pipa para vender os peixes. Era a forma que eu tinha de sustentar a nossa família. Como não tinha prancha, tirava a tampa do meu isopor e começava a pegar ondas. Foi onde surgiu todo esse interesse pelo surfe”.

Foi assim que Ítalo começou a surfar suas primeiras ondas, sobre a tampa do isopor. Essa fase durou quase um ano e depois de dezenas de tampas quebradas mesmo assim seu pai não se aborrecia. Luizinho sempre foi compreensivo com a paixão que o filho tinha em fazer aquilo, mas também não tinha como oferecer mais do que podia naquele momento.

A Primeira Prancha

Inevitavelmente, Ítalo cresceu e as tampas de isopor foram ficando pequenas e não mais sustentavam seu peso. Foi então que com o auxílio de terceiros, que o doaram uma prancha usada e com o bico quebrado, Ferreira começou a surfar em uma prancha de verdade, mesmo não sendo a ideal para o garoto de 8 anos de idade.

Em torno de três anos mais tarde, já aos 11, Ítalo ganhou a sua primeira prancha nova e o melhor de tudo, foi da própria família. Seu pai lembra até hoje que gastou R$ 120,00, o que para eles era uma fortuna na época, mas que aquele foi o melhor presente que ele poderia ter dado ao filho.

Agora com uma prancha que lhe permitia as condições necessárias para praticar o surfe, Ferreira evoluiu rapidamente, aperfeiçoando suas manobras e notando que era aquilo mesmo que ele queria fazer da vida profissionalmente.

Contra Cultura


Não é segredo que o surf foi por muitos anos considerado um esporte de desocupados. Por algumas décadas os surfistas foram inclusive taxados de vagabundos. Certamente nos dias de hoje esse estereótipo mudou muito, mas em alguns locais mais conservadores, principalmente pequenas cidades, isso ainda pode ocorrer, mesmo que de forma velada.

Foi isso que aconteceu com Ítalo durante sua adolescência. Ele e sua família sofreram com o preconceito, visto que Ferreira não era super dedicados aos estudos e gostava de ficar no mar o dia inteiro treinando. De fato isso gerava comentários maldosos de algumas pessoas e entristecia tanto a ele quanto aos seus familiares. Luizinho relata com tristeza do que ouvia: “Infelizmente a gente precisou ouvir muita coisa pelo fato de ele sempre ter se dedicado ao surfe. Devo admitir que Ítalo não era muito fã dos estudos, tanto que só terminou ensino fundamental. Algumas pessoas viam ele se dedicando somente ao esporte e faziam comentários tendenciosos, falando que o surfe era coisa de vagabundo e que ele iria se perder”.

Não bastasse o preconceito, Ítalo e sua família sofreram com a falta de apoio e estrutura para as competições. Muitas vezes eles precisaram arrecadar recursos com parentes e amigos para ter melhores condições de treinamento e equipamento. Como é de praxe, raramente há apoio das esferas públicas para os jovens atletas e não foi diferente com ele.

Apoio Primordial


Algo de muito importante aconteceu com Ítalo quando ele tinha apenas 12 anos. Nessa época ele foi “descoberto” por Luiz “Pinga” Campos, então diretor de marketing da Oakley, uma das principais marcas de surf do mundo. Pinga é conhecido por ser um grande gestor de carreiras de atletas e mais uma vez mostrou sua competência ao assumir a responsabilidade pela carreira do pequeno prodígio da Baía Formosa.

Pinga de fato ficou impressionado com o desempenho de Ítalo durante um evento para amadores na praia de Ponta Negra, em Natal. Foi aí que ele o convidou para se juntar à sua equipe, a qual já contava com surfistas consagrados como Adriano de Souza, Jadson André e Miguel Pupo, hoje seus companheiros na elite do surf mundial.

Circuito Mundial


Ítalo foi o melhor novato da WSL em 2015, ao terminar o ano em 7º, mostrando todo seu potencial logo na primeira temporada. Entretanto, ouve uma queda significativa em suas performances e resultados nos anos seguintes, tendo finalizado em 15º em 2016 e 22º em 2017. Importante lembrar que nesse ano ele rompeu os ligamentos do tornozelo direito, ausentando-se assim de três etapas naquela temporada.

O ano de 2018 foi o da volta por cima, em grande estilo. Sua primeira vitória no tour veio de forma memorável. Ferreira venceu a tradicional etapa de Bell’s Beach, na Austrália. E Não foi qualquer vitória, ele derrotou o tricampeão mundial Mick Fanning em condições de ondas muito boas. Para aumentar ainda mais a importância dessa vitória, aquela foi a bateria de despedida do ícone australiano. Um momento muito emocionante para ambos os surfistas, com Ítalo saindo vitorioso, jogando água na cerveja da torcida local, mas sendo reconhecido por Mick por sua performance incontestável de backside.

Ao final daquela temporada, Ítalo finalizou em 4º lugar no ranking, tendo vencido mais duas etapas, a de Bali e também a de Portugal. Apesar disso, ainda foi um ano inconsistente, com alguns resultados muito fracos que acabaram o tirando da briga pelo título mundial.

O Tão Sonhado Título Mundial

Photo by Kelly Cestari/WSL

Vindo de três vitórias na temporada anterior, Ítalo começou o ano de 2019 com a cabeça focada em sem campeão mundial de surf. Logo na primeira etapa, na Gold Coast australiana, Ferreira virou uma bateria praticamente perdida nos minutos finais contra o americano Kolohe Andino e começou liderando o ranking.

Entre altos e baixos, Ítalo teve três resultados bem fracos no ano, que assim como em 2018, estavam o deixando um pouco distante da briga pelo caneco. Todavia, um segundo lugar em uma bateria histórica contra Gabriel Medina em Jeffrey’s Bay foi a chave da virada. Mesmo ainda tendo dois resultados inexpressivos na sequencia, Ferreira teve uma perna europeia praticamente perfeita, terminando como vice em Hossegor e vencendo a etapa de Peniche.

Ambos resultados combinados com perdas precoces de Medina o fizeram reassumir a liderança do tour. Ítalo chegou a Pipeline com a camiseta amarela e focado em apenas um objetivo, o título mundial de surf.

Nem mesmo o melhor roteirista de Hollywood pensaria num enredo tão rico para essa etapa. Medina e Ítalo foram passando suas baterias e fase a fase até chegarem à grande final. Pela primeira vez em toda a história, dois brasileiros chegavam à final do maior evento do ano sendo líder e vice do ranking. A diferença de pontos entre eles era tão pouca que quem vencesse a bateria e o campeonato seria consagrado campeão mundial de 2019 da WSL.

O mundo do surf parou para assistir àquela bateria. Ondas de 6 pés quebrando tubulares para Pipe e Backdoor eram o cenário perfeito. Ítalo começou liderando com uma direita inesperada, já que as melhores ondas vinham sendo esquerdas e Medina havia se posicionado na preferência para elas. Quando a direita subiu no horizonte, Ferreira estava perfeitamente posicionado e com a preferência para ela. Ao fim dos 40 minutos de bateria, o Potiguar saiu vencedor e finalmente e merecidamente alcançou seu maior objetivo, o de campeão mundial de surf da WSL em 2019.

Continuidade

Ítalo segue seu rumo no circuito e em 2020, quando o tour não aconteceu por causa da pandemia, ele foi eleito por muitos o campeão mundial virtual, por conta da quantidade e qualidade de seus clipes de surf nas redes sociais. Além disso, Ferreira inaugurou um Instituto que leva seu nome em Baía Formosa, voltado para as crianças do município, devolvendo assim um pouco do que o surf lhe trouxe até o momento.

No momento da postagem desse artigo, Ítalo já havia vencido a segunda etapa do tour da WSL em 2021 e ficado em 9º na terceira etapa, sendo atualmente o segundo colocado do ranking atrás apenas de seu maior rival, Gabriel Medina.

 

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