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Surf Em Nias, Indonésia: Análise Do Pico

Surf Em Nias, Indonésia: Análise Do Pico⠀⠀⠀⠀⠀⠀

A Análise do Pico de surf de hoje tem como foco uma das direitas mais fotogênicas e tubulares do mundo, Lagundri Bay em Nias, na Indonésia.

Daquelas ondas que são identificadas imediatamente assim que vemos uma foto, a direita que quebra na baía de Lagundri, no sul da Ilha de Nias, é muito desejada e frequentada pelos surfistas amantes de tubos do mundo todo.

A Descoberta

Foi no distante ano de 1975 que três surfistas australianos, viajando pela Indonésia de moto, descobriram a onda de Nias. Eles não tinham ideia do que encontrariam ao final daquela estrada sinuosa que os levava através da selva densa de uma grande ilha ao largo da costa de Sumatra.

Em breve Kevin Lovett, John Geisel e Peter Troy estariam frente a frente com tubos verde-esmeralda perfeitos quebrando em um cenário dramático, numa baía repleta de coqueiros, que logo se tornariam um ícone universal de perfeição exótica. A pequena vila de Sorake tornou-se instantaneamente um destino obrigatório para todos os principais viajantes de surf.

Chegar lá era uma missão infernal na época e ainda era até a poucos anos atrás. Quando a única opção para chegar àquela ilha eram os barcos públicos lotados de pessoas, animais e cargas, tudo misturado, a viagem desde Bali levava mais de 24 horas. Nos dias de hoje o acesso está muito mais fácil, pois existem voos diretos tanto da capital Jakarta como de Medan até o aeroporto de Gunung Sitoli, a capital de Nias. Dali são mais duas horas e meia de carro até Sorake Beach.

Hombo Batu

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Como esta ilha se manteve isolada durante séculos, seu povo manteve muito de sua cultura megalítica preservada. Até há poucas décadas era comum a pratica do canibalismo em algumas tribos por exemplo. Há um ritual que se destaca e permanece vivo até hoje, ele se chama Hombo Batu (ou Stone Jumping). Este era um ritual de prova de virilidade para pré-adolescentes locais. Eles tinham que saltar por cima de uma pedra de dois metros de altura para provarem sua masculinidade.

Originalmente, esta pedra continha espinhos e lâminas de bambu afiadas, tornando esta atividade ainda mais arriscada e perigosa. Estes jovens eram encorajados a demonstrar que estavam prontos para se tornarem grandes guerreiros. Nos dias de hoje, o povo local realiza a cerimônia quase da mesma forma que a séculos atrás. Seus moradores vestem seus tradicionais trajes cerimoniais e o cenário tem algumas casas antigas com os telhados de tijolo em espiral muito curiosos.

A tradição do Hombo Batu começou por lá em uma época de recorrentes batalhas entre as tribos e aldeias vizinhas. Esta cultura de guerras e batalhas é também a razão pela qual a arquitetura da ilha é tão peculiar. Os telhados pontudos e altos e as paredes com estacas de bambu faziam parte de uma tática de arquitetura de defesa. São estas mesmas construções que servem até hoje como cenário artístico para a celebração dos saltos.

O Surf E O Desenvolvimento

Atualmente, a maioria das famílias locais agora conta com o turismo sazonal de surf como sua principal fonte de renda, mas para os surfistas visitantes a experiência permanece super autêntica. Nias ainda é um daqueles lugares onde você quase nunca quebra a rotina de surfar/comer/dormir/surfar quando o swell está rolando.

Uma vez na ilha, todo o conceito de tempo se torna quase irrelevante e as coisas mudam em um ritmo relativamente lento. Faz mais de quarenta anos desde que a primeira onda foi surfada por ali, mas poderia ter sido um, dez ou cinquenta, porque a vila parece estar imersa em sua própria cápsula do tempo. Por lá, todos os “losmens” (pousadas) e casas de família ainda são de propriedade ou operados pelos habitantes locais.

Todavia, houve algumas mudanças ao longo dos anos, e elas aconteceram de maneira repentina e muitas vezes dramática, quase para contrabalançar a vida lenta da vila de Sorake. A primeira foi a descoberta das Ilhas Mentawai, seguida pelo desenvolvimento explosivo da indústria do turismo de surf lá. Quase da noite para o dia, a icônica perfeição do point break da Baía de Lagundri tornou-se antiquada e o novo pico xodó da Indonésia se tornou a direita de Lance’s Right.

Depois vieram dois terremotos gigantescos, o de dezembro de 2004 e o de março de 2005. Foi aí que começaram a circular rumores de que não apenas a vila de Sorake havia sido destruída pelo tsunami, o que não é verdade, mas também o recife de coral havia subido cerca de dois metros, alterando a forma da onda também.

O Terremoto De 2005

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Sim, a vila sofreu alguns danos em 2004 e outros mais severos em 2005 e agora o recife de coral se projeta evidentemente para fora d’água em praticamente todas as marés. Em 28 de maio de 2005, um terremoto de magnitude 8,6 ocorreu a oeste da ilha de Sumatra, muito próximo à Nias. Foi o terceiro terremoto mais poderoso na Indonésia desde que eles começaram a ser medidos em 1965 por lá. Ele causou estragos imensos em partes do país e matou quase mil pessoas na ilha de Nias.

Quando o caos passou e uma relativa normalidade finalmente retornou à ilha, junto dela retornaram também os surfistas. Foi aí que ficou claro que o terremoto também havia afetado a estrutura física local. O recife de coral da Baía de Lagundri havia sido elevado por quase três metros depois do terremoto. Isso claramente afetou a formação da onda, que ficou mais rasa, mais tubular e mais difícil de ser dropada. Especialmente em dias de ondas grandes, o drop se tornou ainda mais buraco e o tubo mais longo do que antes. Da mesma forma, favoreceu também o surf em dias de pequenas ondulações, já que agora o pico requer menos swell para começar a quebrar.

Outro ponto muito positivo foi que depois deste acontecimento a Malária foi praticamente erradicada da região, que era endêmica da doença e matava centenas de pessoas por ano. Entretanto, Lagundri é provavelmente a exceção à regra quando se trata do fatídico terremoto de 8,6 na escala Richter. Ao contrário do aconteceu por ali, muitas outras ondas na Indonésia acabaram desaparecendo completamente ou sendo prejudicadas depois de 2005.

As Ondas

The Point

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A principal onda, a mais famosa, o motivo pelo qual milhares de surfistas viajam todos os anos para Nias. Esta direita é muitas vezes classificada como uma das dez melhores ondas do mundo. Conhecida como Nias, Lagundri ou Saroke, The Point é perfeita desde a entrada no mar. Existe um “key hole”, uma espécie de fenda na bancada de coral atrás da onda, local onde é possível entrar no mar sem nem molhar os cabelos. É um dos picos de mais fácil e rápida entrada dentre as ondas mais conhecidas.

Uma vez no outside, esta onda oferece uma zona de drop pequena, o que concentra o crowd. Aliás, o drop é bastante íngreme quando as ondas passam dos 5 pés. The Point é basicamente um tubo longo, perfeito e espaçoso, que depois de terminado segura uma parede um pouco cheia para manobras de borda. Esta onda quebra perfeita independente das condições, desde 2 até 12 pés.

Espere por um crowd intenso e bem habilidoso, algum localismo e uma disputa ferrenha pelas melhores ondas. As melhores condições para o surf neste pico são swell de sul/sudoeste com tamanho 5 e 10 pés e período acima de 12 segundos. Funciona bem com qualquer maré, mas prefere subindo. O vento perfeito é o norte, terral.

Indicators

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Leva este nome pois fica localizada logo acima do Point de Lagundri Bay, portanto quando uma série quebra por lá é questão de segundos para que ela quebre também no Point. Indicators é de fato uma onda para poucos, pouquíssimos surfistas. Antes do terremoto de 2005 ela era mais amigável e quebrava perfeita por uma centena de metros, com até três seções de tubo.

Após 2005 ela ficou extremamente rasa e impossível de ser surfada na maré seca. Sob as condições certas, Indicators pode ser uma das melhores direitas do mundo.  Suas velozes ondas quebram sobre um reef afiado e raso e disparam tubos cilíndricos que parecem não ter fim. As condições perfeitas para este pico são maré alta (quanto mais alta melhor), swell de sudoeste/oeste entre 4 e 6 pés, período alto e vento terral de norte. Sem dúvida esta onda é apenas para aqueles que estão dispostos a correr um alto risco, que querem se desafiar em condições extremas e não toleram o crowd intenso do Point.

Sobatu (Phantom Reef)

Certamente uma das ondas mais poderosas de toda Indonésia. Quebra sempre maior que o Point, às vezes com o dobro do tamanho. Tem sido explorada e divulgada com mais frequência nos últimos anos, mas é surfada há décadas por surfistas destemidos e viciados em adrenalina. Inclusive este pico foi palco das fases finais de um evento do WQS no ano 2000, o Deep Jungle, pois as ondas no pico principal estavam muito pequenas.

Sobatu, ou Phantom Reef, pode ser acessado através de uma caminhada de 30 minutos pela praia ou de barco, opção mais fácil e também mais segura. Com uma bancada bastante irregular e ondas super tubulares quebrando em diferentes picos, o surf nessa onda é bastante desafiador. As melhores condições são com ondulação de sudoeste entre 6 e 10 pés, período alto, vento norte e maré média para cheia.

Rockstar (Hilisataro)

Hilisataro, ou mais conhecida como Rockstar, é outra onda clássica em Nias. Este pico oferece ondas perfeitas para a direita, com seções de tubo e manobras. É provável que você encontre ondas quebrando sozinhas por lá, mesmo que seja um local de fácil acesso na beira da estrada que vem da capital Gunung Sitoli.

Recomendada para surfistas de nível avançado, Rockstar se destaca quando o Point está quebrando grande com fortes ondulações de sul ou sudoeste e ventos leves de noroeste. A maré ideal é a média para cheia. Se preferir, utilize botinhas de reef para entrar no mar, já que exige uma caminhada curta por cima do recife de coral.

Afulu

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Inegavelmente a melhor esquerda da ilha de Nias, Afulu é cercada por inúmeros beach breaks com boas ondas e sem nome definido. Este pico apresenta longas seções de tubos ocos sobre uma rasa bancada de corais. Esta é a onda localizada mais ao norte da ilha. Prefira surfá-la de manhã bem cedo, pois os ventos costumam estar mais calmos até às 11am.

Cuidado ao entrar no mar, acesse a água no extremo norte da praia para se afastar das rochas e siga direto para o pico. Considerando a rasa bancada, o coral afiado e o tipo da onda, Afulu definitivamente não é para surfistas inexperientes. Suas condições preferidas para quebrar clássica são swell de sudoeste com período entre 10 e 15 segundos, vento nordeste fraco e qualquer maré.

Asu

Localizada em uma pequena cadeia de ilhas (Hinakos) para fora da costa de Nias, Asu dá nome à perfeita esquerda que quebra em sua bancada na ponta norte. Super consistente, Asu é uma esquerda rápida e previsível que abre por mais de cem metros até terminar em uma rasa e perigosa bancada. Esta seção final da onda antigamente era a melhor, super rasa, mas que formava tubos largos e perfeitos.

Após o terremoto de 2005 a bancada subiu mais de dois metros e a chamada Nuclear Zone hoje está quase que completamente para fora d’água.  Conhecida por sua constância, aceitando ondulações de 2 a 15 pés, Asu pode ser uma das maiores ondas da Sumatra. Este pico fica localizado na ponta norte da ilha e recebe bem o vento sul, coisa rara na região.

A melhor direção de ondulação para Asu é a oeste/sudoeste com período entre 10 e 15 segundos. Quebra melhor na maré média, mas funciona bem em todas, apesar de a seca ser um pouco mais perigosa. O melhor vento é o leste/sudeste, apesar de também aceitar o sul, que é maral em Lagundri. 

Bawa

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Intimidadora! Esta é a palavra para definir esta onda. Ela quebra em mar aberto, seus picos não são exatamente bem definidos e ser pego por uma série fora de posição é questão de tempo. Este lugar tem ondas todos os dias do ano. Ela é de fato uma ótima onda, forma paredes longas e tubos grotescos na seção do inside. Alguns surfistas chegam a compará-la com a onda de Sunset, no Havaí.

Este pico leva o nome da ilha onde ela está localizada, na região do arquipélago das Hinakos. Ela é uma ótima opção para aqueles surfistas que desejam se afastar do crowd de Lagundri e também para aqueles que estão na ilha vizinha de Asu e o vento aperta de norte/noroeste. Por estarem em posições opostas, quando bate maral em Asu é terral em Bawa e vice-versa. Este pico quebra melhor com ondulações de sudoeste entre 6 e 15 pés e período longo. O vento ideal é o noroeste fraco e funciona melhor na meia maré.

nias surf

Além de todos estes picos ainda existem outros que podem ser surfados sem crowd, mas para isso o conhecimento local é essencial.

Pranchas

É de suma importância estar com o equipamento certo para poder aproveitar estas ondas. Recomendamos modelos de pranchas com excelente remada, rocker de bico mais alto e rabetas alongadas e fechadas para todos os picos da região. Sem dúvida é muito necessário que as pranchas ofereçam alto poder de remada para facilitar a entrada nas ondas, que se encaixem nas partes íngremes dos drops e que mantenham a estabilidade dentro dos tubos. Levando-se em consideração estas características, recomendamos os modelos Lost Indo Driver, Pyzel Next Step e Chilli Fader Step Up.

É importante também ter pranchas que funcionem bem em mares menores e manobráveis, pois não é todo dia que as ondas estarão grandes e emburacadas. Neste caso, nossa recomendação é de modelos que tenham um bom drive em ondas fortes, que sejam velozes para acompanhar as ondas e que tenham bastante responsividade nas curvas de base e topo das ondas. Modelos ideais com rocker de rabeta mais alto e mais volume concentrado em menos área são a DHD Sweet Spot 3.0Sharp Eye #77 e a Al Merrick Happy.

Elas podem ser usadas em tamanhos menores e responderão bem em ondas de 3 a 6 pés, sendo boas tanto nas manobras quanto nos tubos. Se você se encantou com a enorme oferta de diferentes ondas perfeitas nesta região, convide seus amigos para ler este artigo e quem sabe em breve vocês poderão estar surfando tubos perfeitos juntos. Lembre-se de estar bem equipado, com pranchas para ondas sólidas, assim poderá aproveitar tudo que estes picos têm de melhor. Boas ondas!


 

 

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