Al Merrick Deep Six: Prancha Histórica –
Dando sequência em nossa série Prancha Histórica, hoje vamos falar da revolucionária Deep Six, da Al Merrick. Sem dúvidas, ela ajudou e muito o americano Kelly Slater a vencer com maestria o Pipe Masters de 2008.
Antes de falarmos da prancha em si, devemos relembrar aquele campeonato histórico e como Kelly chegou ao título. Foram várias situações peculiares, as iremos narrar nos próximos parágrafos.
Pois bem, as condições do mar naquele evento, como é de costume em Pipe, variaram muito durante toda a janela da competição. Entretanto, vamos focar nas baterias das semifinais e final.
Naquele último dia de competição o mar amanheceu parecido com o dia anterior, com ondas tubulares de 6 a 8 pés tanto para Pipe quanto para Backdoor. Mas o que chamou mais a atenção foi mesmo a cor das ondas. Devido a uma chuva forte e super longa, que durou mais de vinte horas, a água do mar no North Shore estava marrom, mais parecendo alguns beach breaks mundo afora. Mas isso não impediu que os melhores surfistas do mundo dessem se show nos tubos de chocolate.
Kelly Vence Seu Sexto Pipeline Masters
Alguns dias antes da competição começar, Kelly Slater disse que esperava que alguém que não ele ganhasse o Pipeline Masters naquele ano. Isso de fato quase aconteceu, já que com cerca de cinco minutos restantes na semifinal número um terminar, da qual ele fazia parte, parecia que seu destino estava selado. O excelente tuberider de Huntington Beach, Timmy Reyes, era o adversário de Kelly naquela bateria e o havia colocado em uma combinação até aquele momento.
E então, como um pesadelo recorrente horrível, Kelly Slater despencou em uma esquerda sob a prioridade de Timmy e alguns metros depois foi cuspido pelo tubo, nota 9. Ainda assim, como as ondas estavam muito inconsistentes, as chances de ele pegar outro eram pequenas, certo? Não para o ET, já vimos isso acontecer outras vezes. Então, assim que chegou ao outside, novamente sob a prioridade de Reyes, uma onda entrou meio torta em direção ao backdoor e Kelly estava no lugar certo. Ele sumiu e correu por todo o reef da direita sendo recompensado com uma nota 10. Sim, foram 19 pontos somados em 30 segundos, coisas de Slater.
Após uma bateria tão intensa, a final acabou parecendo meio sem graça. O vento ficou estranho e as ondas não rodaram muitos tubos. Kelly conseguiu algumas joias para Backdoor com sua prancha pequena e “esquisita” e exibiu uma maneira totalmente nova de surfar aquelas ondas. Este foi seu sexto título de Pipe Masters, recorde absoluto do maior de todos os tempos.
Mas Que Prancha Era aquela?
Logo após a vitória de Kelly no Pipe Masters, todos tinham as mesmas perguntas: que diabos era aquela prancha que Kelly estava usando? Uma 5’11” em um Pipeline de 8 pés sólidos? Bem, aquela era a Deep Six. Ela era o resultado de um projeto do shaper Al Merrick, que consistia em colocar o design da prancha nas mãos dos próprios surfistas, como um trabalho colaborativo entre eles e o shaper.
Kelly trabalhou com o software CAD e a biblioteca de designs das Channel Islands para combinar uma de suas pranchas 7’0″ com uma 6’0″. Obviamente elas tinham característica bem diferentes e eram usadas em condições distintas. Sua ideia principal era combinar os atributos que funcionavam melhor em ambas as pranchas numa só.
Assim sendo, nasceu esta 5’11” completamente original. Ela tinha uma área de bico mais larga, um outline mais paralelo e a parte mais larga empurrada para a frente do meio. Já na parte traseira, seu contorno era mais estreito e sua rabeta round pin, semelhante ao de sua 7’0″ que inspirou o novo modelo. Essa combinação resultou nas seguintes medidas: 5’11″ x 18″ 1/2 x 2″ 1/2. Ela permitia que Kelly entrasse nas ondas ocas mais cedo e mais profundamente por conta de sua excelente remada. Por ser mais curta, ela permitia também que Kelly a movimentasse com mais agilidade dentro dos tubos, acelerando para ganhar as seções.
Hoje, a Deep Six foi descontinuada, tendo sido substituída pelo modelo Wizard Sleeve, o qual ainda pode ser feito sob encomenda. Apesar disso, uma coisa que certamente não mudou foi a influência que esse episódio de 2008 teve no mundo do surf. Daquele dia em diante Slater ditou uma nova tendência, a da diminuição no tamanho das pranchas em ondas fortes e tubulares. Atualmente a maioria dos surfistas usa pranchas muito menores do que aquelas que os pros usavam no final dos anos 2000 em Pipe, Teahupoo ou Indonésia por exemplo.
Kelly sendo Kelly e deixando seu nome na história do surf mais uma vez!